segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ode à Flor no Deserto

Qual uma tela de Monet,
uma flor no deserto é uma paisagem rara,
única;
de tamanha beleza imensurável.

Engana-se o admirador desatento,
ao pensar que a flor está solitária.
Falha, pois, ao enxergar todos os grãos de areia que lhe fazem companhia;
admirando-a aos seus pés.

Porém, como todo dia precede a noite,
há o momento em que o caule da flor é cortado,
a raiz se desprende do solo;
e até mesmo esta Afrodite dá um último suspiro.

Não há razão para culpar o Destino.
Pois, nas palavras deste próprio perpétuo:
“Eu não desejo, não sonho nem destruo,
tampouco me desespero nem me encanto.
Apenas sou.”

Não me estenderei falando sobre naus e navios,
dos quais ela certamente era o lastro.
Não compararei mais Astros e estrelas,
nem mencionarei que ela seria nossa Estrela Polar.
Nas palavras do poeta preferido da flor, W. H. Auden,
“deixem que o luto chore”.

Rá, com sua coroa dourada,
continua aquecendo seus súditos.
A prateada deusa das marés,
continua vencendo a escuridão com sua luz.

E assim, nós também devemos continuar,
pois era o que flor desejava.
Como diria o Bardo:
“O amanhã, o amanhã; outro amanhã,
dia a dia se escoam de mansinho,
Até que chegue, alfim, a última sílaba do livro da memória.”

O brilho que a flor derramou sobre nós ficará sim nas memórias;
até o derradeiro momento.
Mas a tristeza deve dar lugar para as lembranças joviais e alegres.
E várias são as lembranças proporcionadas por esta flor do deserto;
a qual era conhecida por vários nomes:
Dona, Amor, “baixinha”;
ou simplesmente: Mãe!


                                                                                             NICOLETTI, Rafael

Uma homenagem à Heloisa Aparecida Scopinho Nicoletti (1956-2014)

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